Os Yoga Sūtras de Patañjali são considerados um dos textos fundamentais da tradição do Yoga. Atribuído ao sábio Patañjali — que teria vivido entre 5000 a.C. e 300 d.C., segundo diferentes tradições — esse tratado filosófico reúne, em 196 aforismos curtos e precisos, os princípios que orientam a jornada do praticante em direção à libertação (kaivalya).
Patañjali sistematizou o que hoje chamamos de Rāja Yoga, uma abordagem que une ética, prática, disciplina, introspecção e contemplação em um caminho coerente de autoconhecimento. Seu ensinamento propõe uma transformação profunda, não apenas no corpo e na mente, mas na forma como percebemos a realidade.
O cerne da sua proposta está no estrutura conhecido como Aṣhṭāṅga Yoga — o “Yoga dos Oito Membros” — que descreve as oito etapas progressivas da prática, cada uma interligada e complementar à outra. São elas:
Yama – princípios éticos universais que regem nossa relação com o mundo, como ahiṁsā (não-violência), satya (verdade), asteya (não roubar), brahmacarya (moderação) e aparigraha (não possessividade).
Niyama – disciplinas internas que fortalecem a integridade e o autocuidado. Incluem śauca (pureza), santoṣa (contentamento), tapas (disciplina e constância), svādhyāya (autoestudo e estudo das escrituras) e Īśvarapraṇidhāna (entrega ao divino).
Āsana – as posturas físicas que estabilizam o corpo e preparam o sistema nervoso para práticas mais sutis. Segundo Patañjali, a postura ideal é aquela que é “firme e confortável” (sthira sukham āsanam). A prática de āsanas vai além da forma externa: ela atua como um instrumento de purificação do corpo físico, desintoxica os órgãos internos, fortalece os sistemas respiratório, digestivo e circulatório, e permite ao praticante observar seus padrões mentais. Cada postura, revela, através do esforço consciente e da respiração concentrada, os condicionamentos (Crenças e impressões) que nos limitam, e, ao mesmo tempo, nos ensina a ressignificar-los com firmeza e suavidade.
Prāṇāyāma – o refinamento do ritmo respiratório, que regula a energia vital (prāṇa) e conduz a mente a estados mais sutis de concentração e percepção.
Pratyāhāra – o recolhimento dos sentidos, um movimento de interiorização em que o praticante aprende a não se deixar arrastar pelos estímulos externos.
Dhāraṇā – a concentração, na qual a mente é treinada a manter-se estável em um único ponto de atenção, cultivando foco e clareza.
Dhyāna – a meditação contínua e fluida, onde o praticante mergulha num estado de presença sem esforço.
Samādhi – o estado de absorção plena, em que a dualidade entre observador e objeto se dissolve. É a realização da liberdade espiritual, além dos condicionamentos do ego e da mente.
A proposta dos Yoga Sutras é, portanto, uma via de integração: do corpo, da mente, da respiração e do espírito. O Ashtanga Yoga não é apenas uma técnica, mas um caminho de vida — uma jornada interior em direção à verdade que habita no mais profundo do Ser.